Medo de dirigir, pavor...

sexta-feira, 1 de junho de 2012


Como algo tão irracional pode tomar conta da vida de uma pessoa?

Eu ando por aí e vejo pessoas dirigindo como se fosse nada, despreocupadas, relaxadas... Como? A coisa mais estressante que existe é dirigir!

Não foi sempre assim, meu professor de auto-escola dizia que eu era ótima nisso e eu gostava de dirigir. Mas com o tempo, fui pegando medo, acreditando na minha incapacidade, perdendo toda a confiança no que eu sabia e sendo tomada por esse medo, que foi subindo pelas pernas e amarrando cada reflexo, cada sentimento bom quanto a dirigir, colocando em minha cabeça imagens contorcidas e irreais sobre o quanto eu não sou capaz.


Hoje, eu sento atrás da direção e meu coração começa a bater mais acelerado, sobe algo pela garganta, uma vontade involuntária de gritar, minhas mãos tremem e suam, a respiração fica curta e acelerada e eu só penso - "Ai meu Deus, não quero, quero fugir daqui, sair desse carro!"- ligo o carro tremendo, fico uns instantes olhando para todos os lados antes de sair e, mesmo numa rua vazia, eu demoro alguns minutos para tomar a decisão. Como se fosse acontecer comigo como no desenho do pernalonga, que na hora que eu puser o pé na rua, passa um carro correndo e bate em mim. Não é racional o que passa pela minha cabeça nessa hora. E quando morre o carro então? Pelo pulo que meu coração dá, quase que morro eu também, de pânico e medo. Agora, racionalmente, pânico e medo de quê? Sei bem que é ridículo, o que não muda o fato de eu continuar acreditando que será assim.

Se estou fora do alcance de uma direção, eu vejo tudo acontecendo, sei pra onde devemos virar, vejo que ninguém vem correndo para bater no carro, sei quando tem que parar e quando é pra ir... Tudo isso é muito fácil com meu marido na direção. Mas quando eu estou la, as coisas se contorcem e ficam embaçadas como num quadro abstrato. Não sei em que rua tenho que virar, não sei nem o caminho mais familiar e ao ver um carro atrás de mim, ou passando ao meu lado, estremeço de medo, o frio escala espinha acima, como se eu fosse ter alguma reação involuntária e bater nele, ou vice-versa. É simplesmente irracional!

Quero vencer esse medo, por isso obrigo-me a passar por tudo isso, mais e mais vezes. Creio que tenho melhorado. Já não choro em pânico se o carro morre, não paro no meio da rua exigindo que meu marido passe para o lado do motorista porque eu não posso continuar. - É, houve essa fase também. - Hoje em dia são só as reações do meu corpo, menos visíveis: suor, batidas fortes e falta de ar...

Pergunto-me sempre se um dia isso vai passar, se um dia serei capaz de vencer o medo e dirigir tranquila e relaxada, como se estivesse andando a pé...

Lembro-me de um dia meu irmão me dizer isso, quando perguntei a ele como se sente ao dirigir:

- É como andar a pé, instintivo. - Ainda penso nessa frase, na maravilha que deve ser sentir isso, na facilidade de quem se sente assim. Que inveja desse sentimento!

Enquanto era só eu, não tinha filhos, eu não ligava para o meu medo de carro, havia aceitado o fato e andava a pé para todo o lugar, tranquilamente, sou capaz de andar quilômetros... Mas com filhos é diferente, eles começam a ter horários incompatíveis com caminhadas: Saem da escolinha e vão para o futebol, ou para a natação. E o inverno então? Não dá para ir longe com eles sem congelar.

Existem também as compras, que só faço quando meu marido ou a sogra tem tempo... Acabo virando escrava do compromisso dos outros. Eu devo me encaixar no horário vago e na boa vontade das outras pessoas, que podem me dar uma carona. Não quero isso! O medo de dirigir, está dirigindo minha vida!

Preciso vencer esse medo idiota. Raciocinar e ver que a rua não está se estreitando. Conseguir enxergar o caminho e não o túnel escuro de pânico que me engole. Já parei de chorar ao volante, um grande feito. Acreditem, sinto que passei um nível. Quantos níveis podem existir?


Para acalmar e conseguir chegar ao final do meu trajeto, costumo me imaginar tranquila, dirigindo num dia de sol, - instintivamente, como diz meu irmão - com uma mão no volante e a outra mudando de estação no rádio - coisa totalmente impossível no meu estágio atual - talvez cantando junto a música que acabo de encontrar em outra estação, totalmente relaxada, gostando de dirigir, - não sei se é utopia, mas gosto de imaginar que um dia ainda vou gostar de disso - estaciono, entro em casa, sento no meu computador e começo um novo texto pro blog: "Venci meu medo de dirigir..."


Mais de 1 ano depois:

Estou quaaase lá... Hoje posso escrever um texto quase afirmando minha vitória: Dirigindo com um Gremlin.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...