Brilho de cristais

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Uma coisa que todo brasileiro quer ver um dia é a neve, pelo menos creio que a maioria de nós sonhe em ver de perto, sentir sua consistência, sua temperatura...
Da primeira vez que visitei a Hungria, não consegui presenciar a neve caindo, embora tenha ficado até dezembro. Naquele ano a neve se recusou a mostrar-se para mim, talvez ela já soubesse que eu teria que voltar e que minha vontade de vê-la aumentaria, então guardou-se em suspense para me impressionar.
Um ano depois, com minha volta definitiva, partida do princípio que não poderia viver sem minha metade, meu então namorado Zsombor, ela decidiu mostrar-se toda vestida de sonho e fantasia.
Foi numa manhã de inverno que recebi uma ligação do meu namorado, que estava na faculdadenaquele instante:
-Olha pra fora! Está nevando!                                                                                               
A neve não é algo normal nem para eles, é sempre muito esperada e contemplada. Fazia dias que esperávamos e olhávamos pela janela a todo o tempo, esperando vê-la cair.
Vesti minhas roupas, que são muitas para poder sair no frio, e fui caminhar até o centro da cidade, que fica a uns quinze minutos de onde moramos. Ela caía tímida e maravilhosa, leve como pequenas plumas, pousando levemente em meu casaco. Eram flocos de cristais, podia vê-los de perto, cada um com sua particular forma lapidada, pequenos diamentes que caem do céu. Os flocos não são bolinhas brancas, são muitos cristaizinhos brilhates, todos juntos. O silêncio provocado pela diminuição de carros pelas ruas, já que se torna difícil a locomoção, era como música, quase que podia ouvir os cristais tilintando...
Uma mãe e seu bebê saíram para contemplar o que seria o primeiro contato do bebê com a neve e o bebê podia ver a magia daquilo, assim como eu, olhava boquiaberto a leveza daqueles flocos caindo suavemente em sua mãozinha, que permanecia aberta esperando por cada toque dos flocos em sua pele.
O centro da cidade, que já é lindo normalmente, parecia um cenário de conto de fadas e para completar, os sinos tocavam uma música ao fundo

fonte da foto: http://somiany.freeblog.hu

Meu celular, que era o pior tipo possivel, um usado do usado e bem antigo, não queria funcionar e não pude ligar para o Zsombor dizendo o quão emocionada eu estava. Mas para que celular, quando as emoções estão tão a flor da pele que são transmitidas facilmente em ondas? Ele sabia. E ele estava lá, no meio da praça, esperando por mim. Foi perfeito... Logo as núvens de neve se afastaram e surgiu o sol, que refletia nos tapetes brancos e telhados cobertos, numa exposição de luzes que máquina nenhuma poderia registrar. A neve brilha! Claro que brilha, são cristais, tapetes de cristais, não de veludo como eu imaginava que fosse. Pura fantasia e luminosidade.
Naquele dia ainda fomos até as montanhas, onde deparei-me com umas das paisagens mais lindas que já presenciei, uma floresta de cristal. As árvores, que só exibiam seus galhos sem folhas, tornaram-se inteiramente brancas e brilhantes. Tentei fotografar, mas foi impossível registrar aquilo, era inteiramente branco, cristal e brilho.

fonte da foto: http://www.orszagalbum.hu

E todos os anos contemplo a neve com a mesma magia, não é possível se acostumar com sua leveza e brilho.
As crianças mal veem a neve cair e já planejam escorregar com trenó. As ruas mais íngrimes são tomadas por pessoas de todas as idades, crianças, jovens, adultos, todos curtindo a neve, escorregando com seus trenós e de repente a idade não faz diferença nenhuma, estão todos brincando, se jogando na neve e fazendo anjinhos, risadas altas e guerras de bola de neve...
E a neve realmente é mágica, capaz de trazer a infância de volta e nos fazer esquecer dos problemas do trabalho, esquecer do tempo e até do frio. Ela reflete em seus cristais a criança que existe em cada um.
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