Quando as palavras calam e os dedos falam.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Faz algum tempo que percebi que sou boa para escrever palavras e péssima para emití-las sonoramente. Coisa desagradável, já que a maior prova disso foi meu discurso de casamento, onde não consegui expressar absolutamente nada dos grandes textos preparados na minha cabeça, ficou totalmente bobo. De alguma forma, meus melhores discursos saem pelos dedos e não pela boca.

Parei pra pensar em como funciono nesse sentido e é bem interessante (ou diria estranho?). Eu sento na frente do computador sem nada montado na cabeça, sei apenas o tema e as vezes nem isso, coloco meus dedos no teclado e eles começam a falar. Saem as frases, saem as teorias, os sonhos e eu sempre me surpreendo com o final. Meus dedos falam muito bem.

Na adolecência descobri esse poder dos dedos falantes. Sempre que estava brava ou não entendia algo, começava a escrever e escrevia até chegar a uma compreenção sobre o assunto. Incrível como era levada a pensamentos claros e diretos, coisas escondidas em mim, que se revelavam a cada letra. Cheguei a me reconciliar com uma amiga através de carta, já que as palavras não convenciam e a carta o fez muito bem.
Acho que quando escrevo, passo pra outra dimensão, consigo me ver de fora, analisar. Já com palavras... Elas travam na minha garganta. Os pensamentos são longos, complexos, não passam facilmente para fora, se apertam na reta final, perdem pedaços e saem desorganizados, sem sentido e falhos em forma de som. E qual a força de uma palavra falada, se não posso descrever o compasso do meu coração enquanto as falo? Meus dedos descrevem muito bem o que acontece além daquela frase dita, eles podem revelar mãos trêmulas e a lágrima prestes a cair, aquela que ninguém viu quando falei.

Algumas vezes as palavras faladas querem sair em forma de lágrimas, essas eu nunca deixo escapar. Coisa tonta, eu sei, antes saissem corretamente, mostrando o que realmente penso, seguidas de lágrimas, do que o silêncio que sempre deixo sorrindo. Abro a boca, elas não vem por ali, sinto que vem um choro de emoção, então fecho tudo, respiro fundo, engulo o choro e o elogio, passando muitas vezes por insensível. É que novamente são grandes, difíceis de montar com a boca. São feitas de suspiros, agradecimentos e declarações, coisas indomáveis, que tento passar com um sorriso ao invés de lágrimas mal explicadas.

Quando vim para a Hungria pela primeira vez, fiquei quatro meses na casa da minha sogra, como visita. Uma situação estranha, eu a conheci ja me instalando em sua casa... Ela sempre foi muito educada, mas eu não sabia o que realmente achava. Um belo dia ela me disse:

-Estou muito feliz por você ter ficado esse tempo com a gente.

Meu coração disparou, tive vontade de chorar, falar pra ela que estava muito feliz por isso e que tinha adorado a casa, ela, a Hungria e tudo mais... Sabe o que eu fiz? Absoltamente nada. Sorri, depois baixei a cabeça e continuei fazendo o almoço. Ela perguntou se eu tinha entendido e eu consegui balançar minha cabeça, sorrindo, nessa capacidade comunicativa imensa que me cabe. Até hoje me sinto mal por isso, mas não sai, não consigo. Trava na garganta, vem as lágrimas, respiro fundo e fica tudo lá dentro.

Não que eu seja sempre insensível a ponto de não dizer nada, esse foi o meu ápice, mas nunca sai como deveria, saem frases bobas e rasas, nada parecido com o que acontece por dentro.

Agora, o mais legal de tudo isso é discutir comigo. Numa discussão eu não consigo conter as palavras, elas saem, mas as lágrimas também... Instinto ridículo esse que eu tenho de começar um bate-boca já aos prantos. Mania horrorosa dessas palavras sairem pelo lugar errado, pelos olhos.

Eu sei melhor calar, as vezes isso também é preciso. Sei ouvir muito bem e de alguma forma dizer aquela palavra que é preciso para o conforto. Sei fazer alguém sorrir, mesmo que chegue chorando. Esse é mais meu dom, brincar com os sentimentos, transformar num sorriso. Assim como transformo minhas palavras emocionantes em um simples sorriso, também sei transformar o choro de outra pessoa no mesmo. Não sou boa em dizer palavras, mas nem sempre elas são precisas. Meu silêncio as vezes cai bem. E quando são precisas... bom, achei um jeito de dizer, aqui, nesse espacinho, onde me revelo e mostro o que acontece por dentro de mim, por tras do sorriso e do aceno com a cabeça. Aqui já pude, em meio ano, dizer mais que todas as palavras que falei na minha vida. Meus dedos tem finalmente um cantinho para se revelarem, para dizerem o que realmente importa.

Eu sou assim, falo pelos dedos, onde se encontram meus melhores argumentos. Por isso, se você um dia me disser algo lindo, estiver esperando uma resposta e só ganhar um sorriso, acredite, é porque as palavras eram grandes demais para serem pronunciadas e acabaram ficando pelas mãos.
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